Livro: A travessia da terra vermelha
Lucius de Mello
Novo Século
392 págs.

Um fato interessante é que no interior do Paraná repetia-se, guardadas as devidas proporções e sem o horror que acometeu a Europa da Segunda Guerra, a história de perseguição e discriminação que os judeus enfrentaram na Alemanha.
Um fato estranho e assustador foi que uma foto da época da inauguração da escola alemã de Rolândia em 1935 coberta por bandeiras com a suástica nazista. Ou a foto da poeta Maria Kahle de 1934, discursando para uma platéia que não se vê a partir de um púlpito com uma bandeira nazista. Ou um cartaz com a suástica e escrito em bom português "morte aos judeus".
Para os judeus que foram para Rolândia, reencontrar simpatizantes e seguidores do nazismo tão longe de casa foi muito difícil. E, para piorar as coisas, eles também eram alemães, o que, após o início da participação brasileira na Segunda Guerra, tornou tudo ainda mais difícil. Eles tinham medo dos nazistas alemães e dos fascistas brasileiros, representados por policiais sem instrução alguma, dispostos a fazer as leis antiestrangeiros de Getúlio Vargas serem cumpridas à risca.
Assim, eles tiveram de deixar de falar sua língua, enterrar todos os livros escritos em alemão e parar de praticar os ritos de sua religião, enterrando e escondendo os objetos considerados sagrados. Tudo para poder sobreviver de alguma maneira ao período.
Lucius de Mello é escritor, jornalista e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação da USP. Atuou como repórter de Rede Globo durante 14 anos, trabalhou no Canal Futura, da Fundação Roberto Marinho e fez parte da equipe de jornalismo do Jornal do SBT. Sua estréia da literatura deu-se em 1987 com a publicação do livro de contos Um violino para os gatos. É autor também de Eny e o grande bordel brasileiro.
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