Homem de sete instrumentos, consagrado com o Nobel de Literatura em 1971, Pablo Neruda teve também carreira marcante como diplomata e como senador, chegando a se candidatar à presidência do Chile pelo Partido Comunista, em 1969, de que desistiu em favor da candidatura de Allende. Nasceu no sul do Chile, na cidadezinha de Parral, em 12 de julho de 1904. Escreveu desde pequeno, sentindo-se destinado à poesia.
O poeta chileno Pablo Neruda (1906-73) gostava de morar bem ia muito além disso. Ele transformou suas três principais casas no seu país natal em verdadeiros santuários do culto (no bom sentido) à sua complexa personalidade. A visita às sossegadas moradas dele em Isla Negra, em Valparaiso (La Sebastiana) e na capital Santiago (La Chascona), hoje transformadas em museus, é uma saborosa viagem pelo universo do poeta, pela cultura chilena e pela história do século 20 e com escalas também no Brasil.
O prato principal é Isla Negra, onde fica a maior e mais interessante parte do acervo do poeta. Isla Negra, na verdade, não é uma ilha, mas o nome de uma pequena vila de pescadores no litoral chileno, às margens do oceano Pacífico, distante pouco mais de 100 quilômetros de Santiago.
A viagem vale não apenas pelo museu, mas também pelos belos cenários de praia. Amante do mar apesar de nunca ter sido um marinheiro de verdade, Pablo Neruda gostava de ficar perto dele, e motivos marinhos estão estalhados por toda parte em suas casas.
O poeta nacional do Chile chegou a Isla Negra em 1939, buscando refúgio para escrever seu engajado "Canto Geral". Havia apenas uma pequena casa no terreno de 5 mil metros quadrados, e Neruda foi construindo aos poucos a moradia definitiva, assessorado pelo arquiteto espanhol Germán Rodríguez Arias.
Concluída em 1965, a casa de Isla Negra paga tributo às origens do poeta. Seu formato imita os vagões de um trem, em uma referência ao fato de que seu pai, José del Carmen Reyes Morales, foi ferroviário.
Assim como La Chascona e La Sebastiana, Isla Negra está repleta de objetos de todo o mundo (3.500, espalhados pelos diversos cômodos). São obras de arte, peças de artesanato dos índios mapuches, quadros, gravuras, fotos, búzios, garrafas, mapas, instrumentos de navegação. Neruda se dizia não um colecionador, mas um "cosista" (um coisista, alguém que gosta de coisas e as acumula).
O poeta mantinha uma relação íntima com o Brasil, país que visitou várias vezes, que citou no "Canto Geral" e que homenageou com uma ode ao Rio de Janeiro. Tinha muitos amigos no país, influenciou muita gente, foi entrevistado por Clarice Lispector e citado por Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, entre outros.
O Brasil é uma presença sutil na casa de Santiago, seja nos quadros de Carybé (que ilustrou edições brasileiras de livros do poeta) e José Pancetti ("um grande pintor de coração puro", dizia) nas paredes, seja nas fotos de Neruda com amigos como Jorge Amado em Salvador. Também vale lembrar que o ainda hoje vivo poeta amazonense Thiago de Mello, amigo e tradutor de Neruda, morou em La Chascona no seu exílio em Santiago durante a ditadura militar brasileira.
A vida e a obra do poeta chileno Pablo Neruda
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